Page 26 - Hogar o Indomável
P. 26

Victor Franch Vargas

           — Faço e não nego, prometo e não cumpro — cantarolou o
         indiozinho. — Confesso que perdi um pouco o interesse quan-
         do te vi voltar pra casa depois da minha profetizada, mas não
         aguentei a curiosidade ao vê-lo cruzando as trilhas em direção
         a selva.

           Hogar grunhiu e apanhou uma fruta que estava caída no
         chão. Pelo menos fome seria um sofrimento desconhecido en-
         quanto estivesse ali.

           — Estou tentando fugir — disse Hogar.

           — O grande mal te alcançou, foi? Eu disse que a selva não
         erra em suas previsões.
           — Infelizmente.

           — Se você quer um conselho de quem adoraria que você ig-
         norasse, fuja pros lados das águas revoltas. Muitos perigos na
         selva, muitos espíritos traiçoeiros.

           — Você é um deles? — E antes que o nativo respondesse,
         ofendido, que não era um deles, Hogar continuou: — A Tia está
         pros lados das águas. Aquela rota de fuga é inviável.

           Pálido como o fantasma de um albino, o menino segurou
         Hogar pelas barbas.

           — A tia?
           — Sim. Barbrásia. Foram apresentados?

           — Não, não.

           E conforme a cor voltava ao seu rosto, o índio contou:
           — Também tenho problema com uma tia. A minha, no caso.
         Lembra que eu te contei sobre meus muitos primos? Somos to-



                                      108
   21   22   23   24   25   26   27   28   29