Page 24 - Hogar o Indomável
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Victor Franch Vargas

         ataque que sofreram — o ataque que clamara a vida do pai de
         Pai Véio —, e pareciam soturnos demais para serem tupis.

           — Guerreiros karipoka — sussurrou uma voz ao ouvido do
         anão.
           Hogar só não gritou pois acabou engolindo a barba ao seu
         assustar.

           Tossindo, sondou as redondezas em busca do dono daquela
         voz. Encontrou-o encarrapitado nos galhos acima da sua cabe-
         ça, as pernas e os braços trançados ao redor da madeira como

         um bebê abraçado à mãe.
           Era o menino que Hogar apedrejara na manhã passada —
         uma manhã que parecia tão distante quanto à liberdade que o
         anão estava prestes a perder.

           — Você — cochichou Hogar. — Vão te ver aí em cima.

           — Não há o que temer. São karipokas.
           — Então por que continua escondido?

           — Não há o que temer em relação às canoas. Porém, estamos
         na selva e todo o cuidado é pouco. — Os dentes do menino,
         brancos como leite, surgiram fugazes em seu rosto redondo.

           Se desenrolando feito um carretel de linha, o menino dei-
         tou-se de barriga ao lado de Hogar.

           — Quem é a nação karipoka? — perguntou o anão.
           — Muitos karipokas não fazem uma tribo. São guerreiros ca-

         ídos, errantes pintados de branco que tentam passar ao outro
         lado do rio.
           O anão apertou os olhos para enxergar melhor os navegan-



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