Page 18 - Hogar o Indomável
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Victor Franch Vargas
criatura horrenda te atropelou, e me poupar desse monte de
detalhes desinteressantes.
— Contar assim me acalma — disse o nativo, suando novamen-
te. Ele corria o risco de desidratar, se continuasse assim. — Lá
estava eu na praia, filosofando sobre a efemeridade dos relacio-
namentos e da desnecessidade de uma companheira, contem-
plando a vida ermitã e discutindo com meus botões quando…
— Um monstro cheio de dentes se encheu do seu monólogo
e tentou partir o seu pescoço?
— Nã-não.
— Oh, que pena. É o que eu teria feito.
Ignorando Hogar, o nativo continuou:
— Foi quando vi algo surgindo na água, se aproximando de
mim aos trancos pelo embalo das ondas. A princípio achei que
fosse um monstro marinho, panaceia enviada para curar meus
traumas através de uma morte rápida, mas logo reconheci que
era um barco.
— É bom essa história melhorar logo. Eu não te proporcio-
nei um porre apenas pela boa índole do meu enorme coração,
sabe? Esperava que a bebida aumentasse o poder narrativo.
Vocês ubambés são fracos quando o assunto é contar causos.
— Um b-barco — continuou o nativo — vindo diretamente
das profundezas escuras. Um barco cuja frente fora moldada
no formato do rosto de uma serpente de fogo, um barco com
velas carmesins sangrando em um fundo negro, um barco…
— Isso daí é um dracar. Eu ganhei uma miniatura quando
moleque, olha só.
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