Page 15 - Hogar o Indomável
P. 15
Hogar, o indomável
A situação não melhorou quando o paciente recobrou a
consciência. Agitado, rolou para fora da mesa e tentou raste-
jar até a porta. Continuou assustado até que Hogar atirou um
pouco de água em seu rosto. Então o pânico foi substituído
pelo horror, e o nativo começou a tremer incontrolavelmente.
— Sossegue — disse Hogar. — Você está comigo.
Talvez estas palavras surtissem maior efeito se Hogar usasse
outro tom de voz, mais caloroso, em vez do ar funerário que
emprestou à fala.
— O monstro vem pra cá — soluçou o nativo. — Me deixa ir
embora, me deixa ir embora.
— Devia se preocupar menos com o que quer que esteja lá
fora, e mais com quem está irritado aqui dentro. O segundo
café da manhã é a segunda refeição mais importante do dia, e
você me fez perder o meu.
Os olhos esbugalhados do nativo dardejavam da
porta para as janelas, enquanto seus braços agarra-
vam-se aos pés da mesa. Mesmo Hogar, cujo talento
para se amedrontar era de arrancar aplausos, pertur-
bou-se frente a essa visão digna de pena.
— Seja lá o que te atacou nesta floresta, saiba que sofri
coisa semelhante ao chegar aqui — disse Hogar, extraindo uma
garrafa do armário. — Animais, pessoas, árvores e até minerais
tentaram tirar uma lasca de mim. Depois dos primeiros inci-
dentes, descobri que a melhor cura para tamanho trauma se
encontra no fundo de um copo vazio.
Todo bar de qualidade questionável possui uma bebida
como essa, cuja validade expirou muito antes de qualquer um
37