Page 12 - Hogar o Indomável
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Victor Franch Vargas
— Será que ele só vive meia vida, e alguém em algum outro
lugar, um outro Hogar, está vivendo a outra metade dessa vida?
Quando os dois guerreiros estavam prestes a seguir sua
linha de pensamentos filosóficos a respeito do tamanho de Ho-
gar, Pai Véio levou o dedo aos lábios e assoviou. O silêncio ime-
diatamente caiu sobre todos os ubambés como um cobertor
feito de chumbo. Os que estavam mais próximos às saurimás
trataram de se esconder entre as grossas raízes que se erguiam
da terra, a postos com tacapes ou arcos firmes entre os dedos.
Os outros, liderados por Pai Véio, rodearam as árvores man-
tendo os ouvidos atentos e as mãos ocupadas.
— O que você ouviu, chefia? — murmurou Abaná, colado de
peito no chão com as mãos sobre a cabeça.
— Ouçam o ronco e o som de pés.
— Que não seja a Besta Ululante — gemeu Karioka. — Que
seja o baile do Abaçaí.
— Guerreiros, às armas! — ordenou Pai Véio.
Nem todos os ubambés eram estranhos ao perigo, e muitos
reagiam à altura no momento do confronto. Mas nada poderia
ter preparado o mais bravo deles para o que aconteceu a seguir.
Uma coisa pequena e redonda saltou mata afora sobre Pai
Véio, atingindo seu rosto com um pé coriáceo tomando im-
pulso para um salto ainda mais alto. Atirando-se em direção
a saurimá, a coisa moveu os braços com rapidez inacreditável
e fez algo que um ubambé acreditaria ser impossível: partiu
ao meio o tronco da grossa árvore, separando-a com a mesma
facilidade que alguém teria ao repartir gelatina.
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