Page 9 - Hogar o Indomável
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Hogar, o indomável

            e, se os deuses fossem bons, sentaria no meio da sua horta par-
            ticular e esperaria que as árvores que já estavam plantadas ali
            quando Hogar chegou derrubassem alguns de seus frutos.

               Suas ideias de sossego foram interrompidas por fracas pan-
            cadas na porta. Irritado, Hogar dirigiu-se a ela.

               — O que foi desta vez? — já foi perguntando, ao abrir a porta
            com um puxão.

               Em vez da turba de nativos que esperava encontrar, Hogar
            viu apenas um único homem de borco no chão. Fraco, o visi-
            tante agarrou os joelhos de Hogar, depois sua barba, e se içou
            até ficar ao nível dos pretos olhos do anfitrião. Só então, ge-
            mendo a cada palavra, disse:

               — Pe-perigo. Socorro.

               E desfaleceu nos braços de Hogar.

                                           *

               Pai Véio seguia à frente dos ubambés, afastando a densa fo-
            lhagem da floresta com seu tacape ornamentado — um boni-
            to pedaço de pau comprido destinado a desacordar qualquer
            animal ou semelhante engraçadinho o suficiente para cruzar o
            caminho do jovem chefe. Ele orgulhava-se da arma. Acordava

            cedo todos os dias, mais cedo do que o cedo natural aos líderes,
            apenas para olear e polir o instrumento.

               Atrás do chefe marchava um grupo misto de homens, mu-
            lheres e crianças. Alguns colhiam frutas ou separavam folhas,
            outros se afastavam do bando e voltavam com pequenas caças
            penduradas nos ombros, ou peixes presos em lanças. O cortejo
            era fechado por nativos munidos de cabaças cheias d’água.

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