Page 16 - Hogar o Indomável
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Victor Franch Vargas
dos presentes nascer. Era o tipo de líquido que poderia ser usa-
do como alvejante para limpar até mesmo o sangue incrustado
na História. Hogar encheu dois copos, estendeu um ao visitan-
te, e tomou um longo gole do seu.
Dividido entre o pavor e a curiosidade, o nativo experimen-
tou cheirar a bebida.
Cinco minutos depois estava caído no chão, rindo. O próprio
Hogar não estava completamente sóbrio, o que era bastante
natural para ele. Usara o álcool como atalho para os períodos
mais difíceis da sua vida. Da puberdade não lembrava absolu-
tamente nada, por exemplo.
— Talvez eu devesse ter maneirado na sua dose — suspirou
ele. — Ter um índio estrebuchando no meu tapete não fazia
parte dos planos.
— Se eu virar de cabeça pra baixo, a sua cara continua igual
porque você tem cabelo nas duas extremidades.
— Recomponha-se e sente-se, homem-se.
O anão tentou colocar o nativo sobre um dos seus bancos,
mas o grau de dificuldade da tarefa se equiparava a dificuldade
de empilhar geleia.
— Esse bicho não para de correr! — bradou o nativo, repre-
endendo o assento em seguida, e depois dizendo que o amava.
Após uma série de tentativas frustradas, Hogar conseguiu
acomodá-lo no banco. Assim como o pêndulo de um relógio, o
nativo oscilava para os lados.
— Tá tudo dançando à beça — disse ele.
— Relaxe e segure este balde. Agora, traumático ou não, es-
tou curioso pra saber o porquê de você ter vindo desmaiar na
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